O Banco Central Europeu (BCE) lançou um alerta sobre os riscos do domínio crescente das stablecoins baseadas no dólar, sublinhando que a ascensão deste tipo de criptoativos pode comprometer a soberania monetária da Zona Euro e travar a ambição do euro de ganhar peso no sistema financeiro global.
Num relatório publicado esta segunda-feira, o BCE reconhece que o fenómeno das stablecoins – criptomoedas indexadas a moedas fiduciárias como o dólar ou o euro – deixou de ser um nicho e está a tornar-se parte integrante das finanças digitais. A instituição presidida por Christine Lagarde estima que o mercado global destas moedas digitais pode aumentar oito vezes até 2028, passando dos atuais 250 mil milhões de dólares para dois biliões, revela o ‘elEconomista’.
Apesar do potencial das stablecoins, o domínio norte-americano é esmagador: 99% da capitalização de mercado destas moedas digitais está ligada ao dólar, enquanto as stablecoins lastreadas no euro representam apenas 1% do total. O BCE alerta que esta tendência pode marginalizar a moeda única, fragilizar o controlo sobre a política monetária e aumentar a dependência financeira e geopolítica da Europa face aos Estados Unidos.
“Se as stablecoins em dólares se disseminarem na Zona Euro, o controlo do BCE sobre as condições monetárias poderá ser enfraquecido”, lê-se no relatório. O banco central sublinha que este fenómeno pode replicar os padrões de economias já dolarizadas, criando uma dinâmica difícil de inverter devido ao efeito de rede e às economias de escala.
Além do risco monetário, o BCE aponta potenciais efeitos nocivos para a banca tradicional. As stablecoins, sobretudo se começarem a oferecer rendimentos, podem atrair depósitos que hoje estão nos bancos, o que comprometeria a intermediação financeira e afetaria a disponibilidade de crédito à economia.
A integração de stablecoins por empresas como Mastercard, Visa, Amazon ou Walmart – esta última ainda por confirmar – reforça o potencial de disrupção no setor.
Como resposta, o BCE defende o desenvolvimento de stablecoins denominadas em euros, com elevados padrões de segurança e regulamentação, e reforça a importância do euro digital como pilar da soberania monetária europeia.
“A incerteza atual oferece uma oportunidade histórica para a Europa”, conclui o relatório. “Se o Eurosistema souber como aproveitar esta vantagem, o euro poderá emergir deste período como uma moeda mais forte. Em tempos incertos, o euro tem o potencial de ser a base sobre a qual outros podem construir.”














